quarta-feira, 6 de julho de 2011

Suplementação de Vitaminas e Minerais Durante a Gestação




Um levantamento bibliográfico em bases de dados eletrônicas com o objetivo de identificar estudos nacionais e internacionais, que empregaram métodos de investigação dietética em gestantes foi realizado por Bertin et al (2006). Em vários estudos, o consumo de cálcio, ferro, fibras e folato foram inadequados (Giddens et al, 2000; Azevedo e Sampaio, 2003; Dunn et al, 1994; Barros et al, 2004). Outros estudos mostraram também consumo inadequado de magnésio, zinco, vitaminas B1, D e E (Giddens et al, 2000; Azevedo e Sampaio, 2003). A ingestão de vitaminas A e C atingiram ou até ultrapassaram os valores recomendados (Giddens et al, 2000; Azevedo e Sampaio, 2003; Barros et al, 2004).
Os micronutrientes são importantes para o organismo e quando estão deficientes podem trazer como conseqüência o desenvolvimento de anomalias no bebê, o aumento da incidência de partos prematuros, com recém-nascidos de baixo peso, maior morbidade perinatal, anemia materna, baixa qualidade da lactação e, em geral, a depleção das reservas nutricionais maternas (ALLEN).
Por outro lado, alguns micronutrientes em excesso, podem fazer mal. A vitamina A, por exemplo, quando em excesso, tem efeito teratogênico, causando anormalidades no feto. O excesso de outras vitaminas pode causar formação de cálculos de urato, calcificação óssea excessiva, cálculos renais anemia hemolítica, entre outros males. (CHAGAS, 2003).
Veja a função de cada micronutriente especificamente durante a gravidez:
Vitamina A
Importante para o crescimento e para o desenvolvimento do feto.
A suplementação é feita com o betacaroteno (Fairfield, 2003).
Deficiência: pode causar defeitos congênitos, morte fetal, parto prematuro, retardo de crescimento intra-uterino, baixo peso ao nascer e contribuir para uma baixa reserva do nutriente no RN.
Suplementação: mais experimentações são necessárias para determinar se os suplementos de vitamina A pode reduzir a mortalidade e morbidade maternas e por quais mecanismos resultaria esses efeitos. Em populações já anêmicas, a suplementação trouxe resultados benéficos, com a reversão de 35% do grupo em não-anêmicos (BROEK, 2002).
Excesso: podem provocar malformações fetais atribuídas a alterações no metabolismo do DNA (Cunningham, 2000; Ramalho,2002).

Vitamina C
Ainda não há dados suficientes que comprovem sua importância específica durante a gestação, mas a vitamina C é um antioxidante, promove a síntese de hormônios, ajuda na cicatrização das feridas e na absorção do ferro da dieta. (Fairfield, 2003)
Deficiência: Maior risco de infecções, ruptura prematura de membrana, parto prematuro e eclâmpsia (IOM 2000).
Suplementação: não é necessária, pois se alcança facilmente a recomendação com a dieta (Giddens et al, 2000; Azevedo e Sampaio, 2003; Barros et al, 2004).

Vitamina D
A Vitamina D tem a função de regular o metabolismo do cálcio e do fósforo, necessários ao bom desenvolvimento dos sistemas nervoso, muscular e imunológico. Essa vitamina pode ser adquirida através da dieta ou sintetizada na pele através de uma reação catalisada pela radiação (SARAIVA, 2007).
Suplementação: não há evidências para avaliar os efeitos do suplemento da vitamina D durante a gravidez (Mahomed, 1999). 
Ácido Fólico
Atua como coenzima no metabolismo de aminoácidos, na síntese de DNA e RNA, é vital para a divisão celular e síntese protéica. Evidências epidemiológicas e clínicas têm demonstrado que o folato está envolvido na prevenção dos defeitos do tubo neural (DTN) (LIMA, 2002).
Deficiência: maior chance de deslocamento de placenta, nascimento precoce, morte neonatal, baixo peso ao nascer, prematuridade, anemia megaloblástica e defeitos no tubo neural.
Suplementação: favorece aumento dos níveis de hemoglobina – prevenindo a anemia materna - e reduz o risco de defeitos no tubo neural. A suplementação deve ser feita em mulheres em idade fértil, ou no primeiro trimestre de gestação, pois a formação do tudo neural ocorre 3 semanas após a concecpção (Fairfield, 2003).
A recomendação de ácido fólico em grávidas é de 600 mcg (DRI 1998) de “Equivalentes de Folato Dietético” (ácido fólico ou folato), sendo que 400 mcg são derivados de suplementação e, o restante, da alimentação (BERG et al. 2001).
Ferro
Importância: Reduz o nascimento de bebês prematuros e com baixo peso, reduz o risco de morte materna no parto e no pós-parto imediato, melhora a resistência às infecções; melhora a capacidade de aprendizagem da criança e é fundamental para o crescimento saudável (CGPAN).
Deficiência: Anemia ferropriva que está associada a maior risco de mortalidade materna, menor resistência aos sangramentos do parto e puerpério, parto prematuro e baixo peso ao nascer (UNICEF, 1998).
Suplementação: aumenta os níveis de hemoglobina, prevenindo-se a anemia materna. (INGRAM, 2006). Os suplementos são comprimidos de sulfato ferroso em cartelas e deve ser consumidos diariamente (Ministério da Saúde).
A OMS recomenda que todas as gestantes, independente da presença de deficiências dietéticas ou bioquímicas, devem receber dose profilática de ferro na quantidade de 30 a 40 mg durante todo o terceiro trimestre.
Cálcio
Importante na garantia da formação de estrutura óssea e dentária do feto.
Deficiência: durante a gestação e especialmente no período de amamentação pode levar a retirada do cálcio dos ossos da mãe para suprir as necessidades de formação do feto e para a produção de leite. Se o bebê diminuir as reservas de cálcio da mãe, ela pode ter futuramente osteoporose, perdas de dentes e cáries (ROCHA, 2005).
Suplementação: previne a hipertensão arterial e a pré-eclâmpsia, nas populações de risco ou com deficiência nutricional deste mineral. Entretanto, ainda não há evidência a respeito da dose mais adequada e de outros desfechos maternos e fetais. Vale lembrar que a recomendação de cálcio é facilmente alcançada com a dieta, consumindo-se 3 porções do grupo de laticínios (leite, queijo, iogurte) (CALDERON, 2006).
Podemos concluir que:
A suplementação se torna necessária em populações de risco ou em gestantes que já apresentam deficiência de algum micronutriente.
A suplementação de ferro e ácido fólico tem demonstrado eficiência quanto ao risco de anemia e defeitos no tubo neural.
A suplementação de ferro e ácido fólico apresenta melhores resultados que a suplementação com múltiplos micronutrientes (Haider, 2006).

Referências: 
BARROS, DC; PEREIRA, RA; GAMA, SGN; LEAL, MC. O consumo alimentar de gestantes adolescentes no Município do Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Pública V. 20, Supl. 1. Rio de Janeiro, 2004.
BERTIN, RL; PARISENT, J; PIETRO, PF; VASCONCELOS, FAG. Métodos de avaliação do consumo alimentar de gestantes: uma revisão. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil vol.6 no.4 Recife 2006.
CALDERON, IMP; CECATTI, JG; VEJA, CEP. Intervenções benéficas no pré-natal para prevenção da mortalidade materna. Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. vol.28 no.5 Rio de Janeiro May 2006.
CHAGAS, MHC; FLORES, H; CAMARA, FA; CAMPOS, FACS; SANTANA, RA; LINS, ECB. Teratogenia da vitamina A. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil. Vol. 3 n. 3 Recife July/Sept. 2003.
FAIRFIELD, KM; FLETCHER, RH. Vitaminas na prevenção de Doenças Crônicas do Adulto. Revisão científica Vol 1, N Setembro 2003.
FONSECA, VM; SICHIERI, R; BASIO, L; RIBEIRO, LVC. Dietary folate intake by pregnant women in a public hospital in Rio de Janeiro. Revista Brasileira de Epidemiologia. vol.6 no.4 São Paulo Dec. 2003.
HAIDER, BA; BHUTTA,ZA. Multiple-micronutrient supplementation for women during pregnancy. Cochrane Database of Systematic Reviews 2006 Issue 2. Oct 2006.
HINDLE, LJ et al. Effect of multiple micronutrient supplementation during pregnancy on inflammatory markers in Nepalese women. The American Journal of Clinical Nutrition. Vol. 84, No. 5, 1086-1092, November 2006.
LOPES, RE;RAMOS, KS; BRESSANI, CC; ARRUDAm IK; SOUZA, AI Prevalência de anemia e hipovitaminose A em puérperas do Centro de Atenção à Mulher do Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira, IMIP: um estudo piloto Centro de Atenção à Mulher. Instituto Materno Infantil Prof. Fernando Figueira, IMIP. Recife, PE, Brasil. May. 2006.
MAHOMED, K; Gulmezoglu, AM. Suplemento da vitamina D na gravidez. Base de dados de Cochrane das revisões sistemáticas, edição 1999.
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ROCHA, FAC; JUNIOR SILVA, FS. Osteoporose e Gravidez. Revista Brasileira de Reumatologia vol.45 no.3 São Paulo May/June 2005.
SOUZA, AI; FILHO, MB. Diagnóstico e tratamento das anemias carências na gestação: consensos e controvérsias. Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil. Vol. 3 n. 4. Recife Oct/Dec. 2003.